sábado, 2 de julho de 2011

CISNE NEGRO


Ao dar vida à bailarina Nina Sayer, em "Cisne Negro", a atriz Natalie Portman convenceu o telespectador o quanto atormentada pode se tornar a nossa mente ao ser desafiada de forma arbitrária, principalmente quando nos vemos sem referências. Apesar de ter como cenário o mundo mágico do balé (que sempre me fascina e encanta em função da minha história com a dança), o longa tem como bojo a rivalidade que nasce entre as pessoas que têm em comum talento e capacidade técnica, mas, também, o desejo de ocuparem o mesmo lugar e de conquistarem o mesmo nível de reconhecimento.
Para chegar ao status de grande estrela do espetáculo O Lago dos Cines, Nina é instigada por seu professor, o questionável e onírico Thomas Leroy (Vicent Cassel), a abandonar a doçura das saias de tule para experimentar a competitividade, a audácia e a luxúria. Afinal, não bastava interpretar bem o cisne branco, com seus metódicos trejeitos virginais, imaculados e encantadores Para ser o cisne negro era preciso sentir mais que amor à dança. Era necessário ter ódio e preconceito, entregar-se ao prazer sem limites e passar por cima daquelas com quem, até então, dividia o palco e as palmas.
Após uma sequência visceral, enigmática e impenetrável, a jovem, enfim, conquista o papel principal do espetáculo deixando para trás uma vida honesta e valores familiares, transformando-se numa bailarina assustadoramente perfeita e perigosa - inclusive, para si mesma.
Muitos que assistiram "Cisne Negro" defendem que a história é exagerada e que não passa de um thriller psicológico repleto de estereótipos. Concordo, mas a película chama a atenção justamente por conta de sua estrutura dramática. Se fosse água com açúcar, repleta de bailarinas dando piruetas e fazendo pliês, não teria chamado a atenção da crítica e trazido a tona a questão da competência e da responsabilidade que têm àqueles que estão em cargos de chefia. No comando, suas atitudes - por vezes apaixonadas e impensadas - podem mudar vidas, fazendo delas um eterno fechar de cortinas.
Ocorre que incentivar a competitividade e a superação dentro do mundo corporativo pode ser valioso (até certo ponto). Muitos colaboradores, ao serem provocados, apresentam melhores resultados. Entretanto, é preciso cuidado e respeitar o modo de ser e os limites de cada um, pois nem toda mente está apta para superações a qualquer custo.
Impor mudanças drásticas nas pessoas e em seus comportamentos, com a promessa de que só assim chegarão a algum lugar e conseguirão tomar o lugar de seja quem for é um erro - tanto quanto valorizar alguns e deixar outros, igualmente competentes, de lado. Atitudes desta natureza podem causar um desconforto natural e fomentam à aparição de “cisnes negros”. Como bem diz o inimigo número 1 de Batman, o Coringa, "o que me diferencia do restante da humanidade foi um dia ruim que eu tive".
Como líderes, façamos, então, a nossa parte com inteligência, lançando mão de boas escolhas junto aos colaboradores, os convidando para desafios dignos e possíveis, sem puxadas de tapete, desvalorização ou injustiças. Assim, colaboramos para que a vida profissional seja protagonizada mais por mocinhos do que por vilões. Afinal, nem todo cisne branco nasceu para ser cisne negro.


ANA MARIA MAGNI COELHO
02 de julho de 2011

Um comentário:

  1. O filme realmente impressiona. As cobranças, os conflitos internos. Uma pena não ter sido exibido no cinema de Mogi.

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