quarta-feira, 28 de março de 2012

EMPREENDEDORISMO CULTURAL


Há algum tempo tenho me dedicado bastante a estudar o mercado cultural como estratégia de fomento ao empreendedorismo. Nessas minhas buscas conheci o site Cultura e Mercado (um espaço para quem vive de cultura, literalmente!) e uma reflexão de Leonardo Brant apresenta uma provocação bem interessante do que representa o nosso empreendedor cultural tendo que lidar com burocracria, sobe e desce de governos, mudanças nas leis e todas as outras precariedades que envolvem o ambiente da economia criativa no Brasil. Vale a leitura ;-)

Se existe um lugar interessante para o exercício do empreendedorismo no Brasil este lugar é o mercado cultural. Além das dificuldades inerentes a todo tipo de novo negócio, temos aquelas próprias do setor cultural. A atual situação do mercado, de extrema expectativa e insegurança em relação ao nome do próximo ministro da cultura, demonstra bem a instabilidade desse tipo de negócio.
Além de enfrentar a burocracia, a falta de crédito, a ausência de política setorial e fiscal, o clientelismo, a política de balcão, o personalismo cada vez mais exarcebado, os mecanismos de financiamento projetam dois tipos de dependência que comprometem sobremaneira o desenvolvimento estratégico de negócios (sociais ou lucrativos) na área da cultura.
A primeira dependência é do patrocínio privado com dinheiro público. As atenções dos empreendedores voltam-se ao patrocinador, em vez de focarem nas potencialidades do mercado consumidor de cultura. Somando esse fator à ausência do Estado no desenvolvimento de ações educativas e estruturantes, que favoreçam o acesso e a cultura de consumir cultura, temos um quadro de dilaceramento das possibilidades e alternativas de mercado, cada vez mais nas mãos dos grandes conglomerados de mídia e entretenimento.
A outra dependência é do governante de plantão, que implementa ações de financiamento direto, definidas por critérios sempre pouco transparentes e atendendo a pressões e demandas pontuais. O resultado disso é a cômoda confusão entre o que é política pública e o que é favorecimento privado. Os agentes próximos do poder e beneficiários diretos de vantagens ficam convencidos de que são representantes legítimos da república. E os antigos clientes não passam de aproveitadores que merecem punição.
Nem mesmo os empreendedores mais organizados conseguem planejar, olhar para o futuro, construir um cenário de crescimento para o seu negócio, com foco e direção. A falta de estabilidade jurídica impede que o mercado cresça, evolua e consolide seu já conhecido potencial econômico. Por isso continua preso, nas brechas e a reboque dos poderes político, econômico, religioso, midiático.
O cobertor do financiamento à cultura é curto e a frágil política para o empreendedorismo coloca o pobre contra o miserável, o leste contra o oeste, o centro contra a periferia e o erudito contra o popular. A falta de dados e análises consistentes do cenário favorece o discurso “do contra” e política do “a favor”.
E agora, devemos puxar o saco de quem? Devemos atender a esta ou àquela pressão? A coisa vai ficar melhor ou pior com esse? E se entrar o partido tal, como será? Devemos nos posicionar, fazer campanha por indicação de alguém? Se estivermos próximos do “eleito” podemos nos beneficiar? Ou simplesmente não ser perseguido?
O futuro é incerto para todos nós. A expectativa do anúncio do próximo ministro da cultura deixa os empreendedores sem rumo, sem qualquer possibilidade de planejamento. Poderemos ter um ambiente aberto, livre, de compreensão das potencialidades do mercado cultural, com programas de incentivo direto para quem quer empregar, pagar imposto, explorar as imensas oportunidades que o país e mundo oferecem ao gestor cultural. Mas podemos ter uma política centralizadora, que manipula o próprio sentido da função pública de cultura, como se essa função fosse exclusividade de nichos e não de toda a atividade cultural existente no país, da pesquisa à indústria cultural.
O empreendedor é sempre um articulador político. De um jeito ou de outro, está sempre às voltas com igrejinhas, sindicatos, grupos, partidos, associações e redes. Enfim, faz parte do negócio articular e confabular por melhores condições de trabalho e por direitos culturais mais amplos. É comum o empreendedor investir 20%, 30% do seu tempo para tentar garantir que o Estado não atrapalhe suas atividades (não precisa ajudar, é só não atrapalhar).
O empreendedorismo cultural é dependente de uma política de Estado, com mecanismos constantes e um entendimento da força social e econômica desse tipo de atividade. Mas é dependente, sobretudo, da independência desses empreendimentos. Quanto menos atrelado às teias de poder, que atraem, aprisionam e consomem a riqueza cultural do país, mais haverá espaço para novos empreendedores e para a consolidação no Brasil de um dos mercados que mais cresce no mundo.


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