Estar exposto às salas de aula faz alguma diferença aos alunos nos dias de hoje?
Com essa pergunta, o Instituto Ayrton Senna em parceria com o movimento Todos pela Educação lançou no dia 28 de abril, Dia da Educação, o projeto “Caminhos para melhorar o aprendizado”.
Fiquei vidrada em cada slide que era apresentado pela Barbara Burns, do Banco Mundial e pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros.
Sob sua coordenação, as principais conclusões de 165 estudos nacionais e internacionais com base empírica e tratamento estatístico dos impactos de políticas de Educação no aprendizado dos alunos foram disponibilizadas no site do projeto “Caminhos para melhorar o aprendizado”. O objetivo é contribuir para a implementação de políticas públicas possíveis e positivamente impactantes no aprendizado dos brasileiros.
Um pergunta que não me sai da cabeça desde que assisti o lançamento do portal: o que realmente deve mover as transformações da educação brasileira: PAIXÃO ou RAZÃO?
Durante muitos anos, apaixonados pelo processo educacional defenderam mudanças educacionais com base em suas vivências, a partir de sua vocação.
Ótimo. Serviram para semear o terreno.
Hoje é preciso tratar o tema com insumos estatísticos e estudos que sirvam como amostra comparativa. É preciso trazer RAZÃO para a discussão dos processos educacionais com PAIXÃO, como disse Ricardo Paes de Barros.
Não adianta um forte investimento na educação nacional se não pudermos transformar gastos em resultados. Ter materiais e recursos dentro das escolas não é suficiente para produzir aprendizagem. Precisamos ir além da estrutura. Vários estudos do Banco Mundial, mostram que as práticas básicas brasileiras ainda estão longe dos padrões de excelência mundiais. Nossos professores ainda perdem muito em processos burocráticos dentro da sala em troca de oferecer espaço de aprendizagem as crianças e adolescentes. Dessa forma, entregaremos burocratas ao futuro!
As escolas precisam de professores que dediquem seu tempo aos processos de aprendizagem e não as chamadas para presença ou as cópias da lousa. Precisamos mudar!
A melhoria da qualidade do ensino no Brasil depende de um compromisso ético da sociedade, de muita vontade política e de maior competência técnica do professor.
É verdade que somos um dos países que mais tem crescido em alguns critérios de avaliação educacional. Entretanto, ainda estamos muito mal. Por mais gols que o time da educação nacional venha fazendo, nossa base de comparação é muito inferior. Crescemos, mas crescemos pouco! Precisamos sair da terceira para a segunda divisão mundial. Nosso atraso é de 28 anos com relação ao Chile, por exemplo. E o Chile não é a Finlândia, certo?
No século passado, o Brasil conseguiu colocar mais de 90% das crianças e adolescentes em idade escolar na escola, mas a qualidade de ensino se deteriorou bastante. O binômio qualidade-quantidade nos conduz, então, a uma importante reflexão. Não basta uma grande expansão quantitativa do acesso, é preciso também direcionar esforços para cinco outras variáveis que o estudo apresenta:
1) recursos da escola;
2) plano e práticas pedagógicas;
3) gestão da escola;
4) gestão da rede de ensino; e
5) condições das famílias.
Não adianta pensarmos em fatores associados, mas em fatores determinantes quando o assunto é educação. Os caminhos para melhorar o aprendizado são longos e complexos. Para usar uma linguagem esportiva, mais uma vez (Ayrton Senna sempre nos inspira a isso): a melhoria da educação não é uma corrida de 100 metros rasos é uma maratona! Longa, exaustiva, mas cuja sensação de conquista é insuperável.
Educação não é apenas uma política social, mas sim uma política estratégica para o desenvolvimento econômico e político de uma nação. Por isso, requer mudanças profundas na relação educador/ educando, na formação do professor, na revisão de conteúdo, método e de gestão do sistema de ensino. É uma grande tarefa que o Brasil tem para as próximas décadas. E ninguém pode ficar de fora.
É preciso repensar, reinventar a relação escola, família e comunidade.
Nenhuma pesquisa, sozinha, será capaz de desenhar um plano pedagógico que construa a escola perfeita, mas pode contribuir positivamente na ampliação da vontade política para deliberação de políticas públicas mais impactantes no setor.
Alguns caminhos apresentados pela pesquisa e divulgados pelo movimento Todos Pela Educação/Instituto Ayrton Senna falam sobre:
1 - Qualidade do professor
Segundo Paes de Barros, os estudos realizados na última década deixam claro que a qualidade do professor tem grande impacto sobre o desempenho educacional dos alunos. Um aluno que tem um bom professor (um docente entre os 20% melhores da rede) pode aprender durante um ano letivo 68% a mais do que se tivesse um professor ruim (entre os 20% piores da rede).
2 - Tamanho da turma
As evidências apontam que uma redução média de 30% no tamanho da turma leva a um aumento de 44% no que tipicamente um aluno aprende ao longo de um ano. O impacto da redução da quantidade de alunos por turma depende do tamanho original do grupo. Reduzir uma turma grande gera mais impacto sobre o aprendizado do que fazer o mesmo em uma turma que já é pequena.
Além disso, os efeitos variam de acordo com o ano escolar. Estudos apontam que para o 6º ano do Ensino Fundamental, por exemplo, os resultados são significativos em classes que tenham mais de 30 alunos. Para o Ensino Infantil, por exemplo, os efeitos dessa redução já começam a aparecer a partir de 20 alunos.
3- Composição das turmas
Se as escolas devem agrupar os alunos em turmas homogêneas ou heterogêneas é um tema controverso, sobretudo porque cada tipo de composição de turmas tem suas vantagens e desvantagens.
A escola tem como objetivos desenvolver habilidades principalmente em duas dimensões: cognitiva (que chamamos aqui de aprendizado) e social e de cidadania. Como o recorte desse projeto é o de estudar o impacto no aprendizado, os estudos indicam que, mantendo-se constante a qualidade do professor e do material didático, o fato de estar em uma turma homogênea aumenta o aprendizado, tanto no Ensino Fundamental como no Médio. O ganho no desempenho médio equivale a 35% do que um aluno aprende tipicamente em um ano.
4 - Calendário escolar
Há evidência científica de que não cumprir os dias letivos previstos pode aumentar a taxa de repetência, especialmente dos alunos de pior desempenho. Uma das explicações para esse resultado é que, para cumprir o currículo estipulado em um ano letivo mais curto, o professor aumenta o ritmo das aulas, passando maior volume de conteúdo em menos tempo, o que prejudica o aprendizado, principalmente, o dos alunos que apresentam maior dificuldade. Outra explicação é que o currículo é apenas parcialmente cumprido.
Os estudos – a literatura disponível concentra-se nos primeiros anos do Ensino Fundamental – apontam que, levando-se em conta um absenteísmo médio de 5% em relação ao calendário anual, um dia que o professor deixa de faltar aumenta a proficiência do aluno o equivalente a 4% do aprendizado médio anual. Em ambientes onde a taxa de absenteísmo é mais alta, o impacto na proficiência de um dia a mais de aula pode ser ainda maior.
Quer saber mais? Acesse o site do projeto “Caminhos para melhorar o aprendizado”.
Tenho certeza que um país mais empreendedor depende de uma educação mais integrada e eficiente. Não adianta ambiente e recursos. As escolas precisam desenvolver competências e uma cultura mais empreendedora para podermos acelerar na corrida da educação mundial.
Afinal, de que adianta ter vontade se você não acreditar que pode?
Afinal, de que adianta ter vontade se você não acreditar que pode?
“Todo mundo conhece a parábola do besouro, que é absolutamente verdadeira: é um inseto que, pelas leis da aerodinâmica não conseguiria voar, mas como não tem a menor idéia disso, ele voa (...)”
Foi com essa frase que Viviane Senna terminou o encontro no dia 28. Eu tenho certeza que podemos!
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