segunda-feira, 13 de junho de 2011

CAUSAS DO DIVINO

"Logo que descobri que existe Deus entendi que não podia mais fazer outra coisa a não ser viver por ele: minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé."
(Charles de Foucauld)


Durante vários dias da última semana, reservei minha agenda de para me dedicar a um projeto que, há anos, faz a diferença em Mogi das Cruzes: a "Festa do Divino Espírito Santo". Aliás, sua história se confunde com a do próprio município. É difícil imaginar o solo mogiano sem as nuances desta manifestação religiosa, cultural e, indiscutivelmente, empreendedora. Isso mesmo, EMPREENDEDORA. Afinal, poucos projetos conseguem arrebanhar (no melhor estilo católico) tantas pessoas para inúmeras ações beneméritas que culminam na realização do evento. Pessoas que, aliás, nem sempre têm o catolicismo como primeira opção de fé e devoção a Deus.
Assim como nos últimos 4 anos, em 2011 trabalhei como voluntária na barraca do Afogado e estreei também junto à equipe do café da manhã após as alvoradas.
O Afogado é um prato típico da culinária brasileira, uma espécie de ensopado, preparado com carne vermelha, batata, legumes e farinha de mandioca. Geralmente servida durante quermesses, esta receita é um dos carros-chefe do setor gastronômico da "Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes" e, justamente por isso, várias pessoas acabam se disponibilizando a servir a iguaria durante os dias da quermesse.
As alvoradas, por sua vez, são cortejos que saem as 5hs da manhã e percorrem as ruas do centro da cidade, realizando cada dia um trajeto diferente.
Mesmo sem padres ou bispos, diariamente os devotos seguem com suas bandeiras os caminhos que festeiros e capitães de mastro definem para a procissão. Sem dúvida, momentos de muita fé (e de muito frio também) que merecem um cafezinho com pão e mortadela para seguir o dia.
Seja no café ou na quermesse, diversos nomes estiveram trabalhando ao meu lado, com direito a avental vermelho personalizado e bandeja na mão. Alguns bem conhecidos do circuito social e empresarial do Alto Tietê, sobretudo de Mogi das Cruzes. Outros, anônimos; mas todos com a clara devoção a algo muito maior do que status, sobrenome influente ou a profissão do momento. Na festa, não há gerente do SEBRAE-SP, presidente da OAB ou do Sincomércio; somos todos voluntários sem distinção de raça, posição social ou inclinação política.
Confesso que perdi as contas de quantos afogados ou de quantos cafés servi nas madrugadas e noites mogianas. Também não encontraria palavras suficientemente capazes de explicar a emoção que nós, voluntários, sentimos ao trabalhar "de graça" pela causa. Vale muito mais que cifras; preenche a alma de maneira bem especial e nos concede uma força incrível, que nos torna mais fortes e preparados para os embates do dia a dia. Sem dúvida, é uma contribuição diferente, mas muito válida. Não apenas pelo fato de, como cidadã e mogiana de coração, participar de um encontro que tem ligação íntima com a identidade da cidade que abriga a mim e minha família e de onde tiro o meu sustento; mas, especialmente, pelo fato de ter a oportunidade de fazer parte de algo muito maior.
Falar na “Festa do Divino” é falar de tradição, cultura e devoção de pessoas empreendedoras que, durante um ano inteiro, trabalham para que a festa aconteça e enalteça o Espírito Santo, como uma das mais antigas e difundidas práticas do catolicismo popular. Para quem não faz idéia do que eu esteja falando, a "Festa do Divino Espírito Santo", também conhecida entre os mais antigos como "último reduto de caipiras", tem início 40 dias após a Páscoa, na Quinta-Feira de Ascensão, e se encerra no Domingo de Pentecostes celebrando a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e a Virgem Maria.
As festividades envolvem uma série de eventos que incluem: os preparativos e a abertura da festa, as alvoradas e passeatas, a quermesse e espaço de exposição, a entrada dos palmitos e a tradicional procissão sobre o tapete ornamental.
É claro que há também um cunho comercial no encontro, afinal ele precisa não apenas se manter, mas também oferecer qualidade cada vez maior. Além disso, grande parte da renda arrecadada com a quermesse auxilia inúmeras entidades assistenciais da cidade.
Quem participa dos bastidores da festa, sabe que a aura que envolve esta manifestação religiosa é resultado de muito trabalho e de fé em seu estado mais puro. Não há chuva ou ventania capaz de derrubar a vontade de ver o sucesso da festa, junto ao sorriso no rosto dos devotos ou seu “bom dia” nas alvoradas pela manhã. 
Muitas pessoas "herdaram" de seus pais, avós, e até bisavós, a responsabilidade de fazer com que a "Festa do Divino Espírito Santo" aconteça. Homens e mulheres que cresceram no evento e emprestam seus talentos para o projeto sem esperar nada em troca. Seu desejo é que essa cultura não seja perecível ao tempo, avance com o passar dos anos e continue a emocionar, da mesma forma que aconteceu em sua primeira edição, em 1976 – coincidentemente ano em que nasci.
Aliás, minha história com o “Divino” em Mogi das Cruzes é um reencontro com a essência da minha própria família. Lembro-me da minha mãe orando aos pés da minha cama para que as bênçãos do Espírito Santo e seus sete dons estivessem sempre conosco.
Sabedoria, Entendimento, Ciência, Conselho, Fortaleza, Piedade, Temor a Deus. Essa é a essência dos valores que minha mãe sempre desejou a mim e que hoje me orgulho em ensinar aos meus filhos.
Independente da sua religião, busque também a sua essência. Seja você católico, evangélico, espírita, budista ou ateu, não há como negar que a Festa do Divino é um marco cultural e que juntos, de forma empreendedora e organizada, podemos nos unir em prol de causas que preguem, sobretudo, o respeito ao outro e a “comum-união” entre as pessoas . Fico muito feliz em fazer parte dessa história e doar parte do meu tempo para manter viva uma tradição.
Que viva o Divino Espírito Santo!

ANA MARIA MAGNI COELHO
Publicado no Caderno Opinião - Mogi News
11 de maio de 2011

4 comentários:

  1. Ana Maria, os preparativos para 2012 já estão a todo vapor... A partir de janeiro estaremos nos reunindo várias vezes por semana para tratarmos/planejarmos todos os aspectos desta grande Festa. Cabeças pensantes e empreendedoras, com opiniões que visam melhorias para 2012 e os próximos anos, são sempre bem vindas...
    Flavia e Jeferson Cassola
    Capitães de Mastro da Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes

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  2. Vale muito a pena...as pessoas q nunca experientaram não conseguem dimensionar a paz, a felicidade e a levesa de espirito que saimos de lá. E o Divino Esprito Santo nos abençoa sempre.
    Rose Daolio Miyake

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  3. Pois é Ana Maria, o Espírito Santo nos renova a cada dia nos dando força e entendimento. Se voluntário é ajudar ao próximo e é isto que sempre esperamos de pessoas de boa vontade e de um coração enorme.
    José Carlos Nunes Junior

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  4. Reinaldo de Albuquerque15 de março de 2012 às 17:47

    Ana,Paz e Bem!

    Sou Reinaldo de Albuquerque, também devoto do Divino Espirito Santo, e lendo sua matéria gostaria muito de receber fotos se possível do Cortejo do ano passado e anos anteriores também.No meu orkut você poderá ver algumas das festas que ja fiz em minha cidade em Honra ao Divino Espirito Santo.Todas as bençãos derramadas em minha vida e na vida da minha família retribuo com os dons que Ele mesmo opera.Meu e-mail:reialbuquerque@hotmail.com e o mesmo do Facebook. O meu orkut é:reinaldo.dealbuquerque@gmail.com

    Atenciosamente,

    Reinaldo de Albuquerque
    Barra-Bahia

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