DE SÓCRATES A STEVE JOBS

“A vida sem reflexão não merece ser vivida”
Sócrates

Se existiu alguma herança que Sócrates deixou para a humanidade, foi a chance de sempre nos questionarmos sobre nossas "verdades". Ainda na Grécia Antiga, por exemplo, esse grande homem deixou sua marca mostrando que a única coisa que sabia era que nada podia saber e estimulava todas as pessoas a se questionarem sobre a incompletude de seus saberes. A ferramenta que Sócrates utilizava era simples, porém muito poderosa: a pergunta.

Questionar-se. Quebrar paradigmas engessados. Construir utopias. Deixar de lado ideais preconcebidos. Buscar o novo. Esquecer crenças mobilizadoras. Inovar. Na era do conhecimento, do compartilhamento e da sociedade em rede, o ser humano continua sua busca irrefreável pelo controle da adversidade, pela busca de garantias e de respostas completas para apaziguar sua angústia frente ao inusitado.

Inusitado que na última quarta feira nos surpreendeu com a despedida de Steve Jobs não apenas da Apple, mas do mundo. Mesmo sem ser uma MacFag (para quem não sabe o que a palavra significa, quer dizer que nunca fui uma aficionada pelos produtos desenvolvidos pela empresa de tecnologia mais valiosa do mundo), sou uma das milhões de pessoas gratas a Steve por sua contribuição a esse mundo novo. Um mundo aparentemente caótico, mas inegavelmente mais criativo e solidário, onde podemos trabalhar, criar, desenhar, ler, pensar e viver em alta conectividade e velocidade.

No mundo empreendedor, Jobs é inspiração para muitos que desejam fazer de seus produtos ícones de desejo e de seus sonhos pessoais, receitas de sucesso. Receita que, na verdade, duvido que ele próprio possuísse quando largou a faculdade, viajou para a Índia ou quando foi expulso da empresa que ele mesmo construiu. Receita absolutamente desnecessária quando se tem visão, persistência e capacidade de realização. Empreender é construir sua própria receita!

A trajetória de Steve Jobs teve origem na obsessão de sua mãe biológica em assegurar-lhe um curso superior. Ainda bebê foi entregue à adoção para um casal que se comprometeu a arcar com as despesas de sua graduação e quando completou 17 anos, assim o fez: entrou no Reed College. Contudo, 18 meses depois desistiu do curso e se dedicou a inventar um mundo com novo gosto de maçã. Juntou-se a Steve Wozniak para fundar a Apple e se transformar no mais jovem milionário da indústria de informática e mudar a vida de todos nós com seus computadores Macs, iPads, iPhones ou outras tecnologias que estreitaram, como nunca na história da humanidade, as relações entre os 7 bilhões de habitantes do planeta Terra. Sócrates se assustaria com sua inventividade e capacidade de criação.

Jobs não era engenheiro, advogado ou administrador de empresas. Seu método de trabalho seguia sete mandamentos: faça o que você gosta, cause impacto no universo, coloque o cérebro para funcionar, venda sonhos em vez de produtos, diga não a mil coisas, crie experiências incríveis e defina bem sua comunicação. Seria essa a tal receita?!?

Como gestor, Steve Jobs chegou a ser considerado centralizador e perfeccionista, mas sua inventividade e empreendedorismo, o transformaram no ícone de uma geração!

Uma geração Y, X ou Z que cresceu ouvindo histórias sobre as maçãs de Adão e Eva, Branca de Neve, Isaac Newton, mas que viu sua revolução acontecer pelas idéias da maçã de Steve Jobs.

Sua passagem pelo nosso planeta, apesar de curta, foi extremamente valiosa. O mundo lhe reverencia pelo seu esforço, inteligência e inegável talento tecnológico que derrubou fronteiras e humanizou nosso jeito de ser digital. Que não se cultive um mito; mas sim, um modelo de empreendedorismo e inovação. Deixar um legado não é viver pra sempre, mas criar possibilidades capazes de viver pra sempre na vida das pessoas!

"Continuem sedentos... Continuem ingênuos!"

ANA MARIA MAGNI COELHO

Publicado no Caderno Opinião - MogiNews

08 de outubro de 2011