quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A AIDS


A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) foi reconhecida como crise global em meados da década de 80. Em 1986, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 100.000 o nº de casos de AIDS no mundo inteiro e de 5 a 10 milhões o número de casos de infecção pelo HIV. Pesquisadores estimavam que o nº anual de mortes devido à AIDS atingiria o pico de 1,7 milhões em 2006. Mas, somente em 2001, foram relatadas 3 milhões de mortes devidas à doença.
Avaliar o impacto social e econômico do HIV/AIDS é mais difícil do que fazer qualquer outro tipo de previsão. Ouso afirmar que a epidemia (ou seria, pandemia?) ainda não encerrou seu ciclo em nenhum país e que certos impactos do HIV/AIDS, tais como o preconceito, o desespero e a dor, jamais poderão ser medidos facilmente.
No entanto, é provável que a morte prematura de tantos adultos provoque escassez de mão-de-obra e sobrecarregue a assistência dos serviços sociais e também que jovens e crianças sejam prematuramente incumbidos de cuidar de seus pais e trazer o sustento à sua família.
Foi assim comigo em 1994!
A AIDS foi a causa da minha despedida prematura da minha mãe e do mergulho da minha existência no mundo dos adultos.
Hoje, 1º de Dezembro, comemora-se o Dia Mundial da Luta contra a AIDS. Com a evolução do sistema de saúde brasileiro, a luta principal não é apenas contra a doença, mas principalmente contra o preconceito.
Minha mãe Magali e eu com 15 anos
Em 1994, ano em que perdi minha mãe para a doença, AIDS era doença de prostituta, drogado ou travesti. Mulheres preferiam o silêncio e a solidão do sofrimento a terem que assumir uma contaminação por seus maridos, namorados e parceiros.
Tenho certeza que, por vergonha, minha mãe preferiu nos dizer que sofria de leucemia durante todo o período de manifestação e tratamento da doença. 
Obviamente, ela não poderia esconder as feridas, o sofrimento, a luta, os remédios e as injeções. Mas, a causa?
Ah! Nisso a "dona Magali" mandou super bem. Afinal eu tinha menos de 18 anos, os sintomas ainda não eram tão divulgados e talvez, eu também acreditasse que a AIDS jamais aconteceria na minha família.
Só descobri a verdade ao receber o atestado de óbito.
Susto? Medo? Angústia? Não lembro bem qual foi a minha primeira reação...
Lembro-me apenas que logo quis viver a doença mais de perto e dedicar um pouco da minha vida a outros portadores do vírus. Me revezei entre várias entidades de apoio aos soropositivos. Tive a emoção de viver momentos com pessoas maravilhosas, algumas que também já se foram e outras que permanecem na luta, com dignidade.
Desde 1996, o coquetel é oferecido pelo ministério da saúde e pode auxiliar no controle da doença, embora às vezes provoque muitos efeitos colaterais, que são superados com carinho e atenção de pessoas queridas. Vivi muito de perto uma luta que transcendia os sintomas do corpo. Muitas vezes, o soropositivo luta contra uma “morte social” que acaba fazendo-o adoecer ainda mais.
Há mais de 20 anos, a AIDS assombra a população e mesmo assim, ainda não somos livres de julgamentos e preconceitos. Nem todas as pesquisas, tratamentos e campanhas contra a discriminação foram capazes de nos livrar do pensamento mesquinho, tacanha e repleto de falso moralismo.
Por isso, em 2002 foi criada uma Lei (nº 11.199/02) para proteger os direitos à cidadania dos portadores do vírus que prevê pena de até quatro anos de detenção para os que a transgridam.
Na verdade, quem tem pena sou eu.
Pena e vergonha de pessoas que precisem de uma lei para exercer um comportamento tão óbvio como o RESPEITO e a LIBERDADE. Até hoje, convivo com pessoas que me dizem: “Mas, Ana, você é uma executiva de tanto sucesso, não pode sair falando por aí que perdeu sua mãe por causa da AIDS.”
Uau!!! Não posso mesmo???
Pois saibam que tenho o maior orgulho em utilizar o espaço do Lounge Empreendedor para contar essa história e defender a prevenção como único caminho coerente para salvar portadores do isolamento e todos nós de uma possível contaminação.
Infelizmente, a prevenção tem sido um difícil processo para os programas de controle da AIDS. Anteriormente, era grande o desconhecimento sobre a doença e hoje, mesmo com o aumento do conhecimento científico acerca do vírus, suas interações com o organismo, as formas de evitar a transmissão e contágio; as pessoas ainda não se conscientizam e mantém o pensamento de que nunca acontecerá com elas.
ACONTECE, SIM!
A AIDS não escolhe pessoas.
Minha mãe foi contaminada pelo segundo homem com quem manteve relações em toda sua vida, marido a quem tanto amava e era fiel (meu padrasto). Betinho, um dos maiores símbolos da luta contra a doença, fatalmente contraiu o vírus em uma transfusão de sangue, procurando se tratar como hemofílico.
Tudo bem que na época os tratamentos de saúde eram mais precários, o sangue não passava por tantos testes como hoje, mas não existem escolhidos. A fatalidade pode acontecer comigo, com você e com qualquer pessoa.
Assim, o que temos a fazer é parar de esconder o problema e conscientizar a maior parte da população sobre a importância do movimento da prevenção e luta contra a AIDS.
No Brasil, assim como na Austrália, Senegal, Tailândia e Uganda, os programas de prevenção da doença devem seu sucesso (ainda relativo, em minha opinião) à colaboração entre o governo, setor privado e organizações não governamentais. É preciso que hajam metas e orçamento destinados a promoção da educação e da comunicação aberta junto aos jovens sobre os riscos do vírus e sobre a importância de um comportamento mais saudável. É preciso oferecer e estimular o uso de preservativos, que constituem o único método anticoncepcional que também previne contra a transmissão.
É preciso incentivar o exame voluntário e encaminhamento médico dos soropositivos. Quanto mais cedo a pessoa se apresentar voluntariamente para receber orientação e submeter-se a exames, mais cedo ela poderá se tratar. O medo do resultado do exame afasta o paciente de um acompanhamento médico que promova ao portador do HIV uma vida normal antes que a doença se manifeste.
Somente uma abordagem estratégica, coordenada e de grande escala representará esperança real no que a OMS chama de holocausto demográfico da AIDS.
Caso você tenha se interessado e deseje contribuir efetivamente com a causa, o site Apontador.com, realizou uma lista de instituições de estudo, pesquisa e de apoio a prevenção da AIDS. Entre em contato com esse pessoal e veja como fazer:

Programa Nacional de DST e AIDS
http://aponta.me/2FvuL


Gada - Grupo Amparo Ao Doente de AIDS

Gipa -Grupo de Incentivo a Prevenção da AIDS

Disk AIDS

Programa Municipal de DST AIDS




18 comentários:

  1. Acredito que você pode mostrar que a Aids pode acontecer em qualquer família, com qualquer pessoa.

    É isso aí, amiga! Vamos lutar contra o preconceito, a favor do esclarecimento!

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  2. Pois é, Val...
    Os avanços obtidos de 94 até agora são muito frágeis e quase 10 milhões de pessoas continuam à espera de um tratamento. Fora aquelas que nem sabe que são portadoras do vírus!
    Na falta de uma vacina, o jeito é desvendar os olhos e prevenir.
    Obrigada pelo seu carinho de sempre!
    Um beijo,
    Ana Maria

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  3. Vírus nao tem preconceito, só gente tem. Trabalhei 26 anos na saúde, vi o primeiro diagnóstico em 1976, foi um desespero, ninguém sabia o que a pessoa tinha, era homossexual e chorava toda vez que pegava um resultado no nosso laboratório. O Dr Rudolf Hutzler, do Hosp Emílio Ribas foi quem pediu contagem de linfócitos (tive que buscar um especialista pra fazer) e disse ao nosso cliente que ele era portador de um novo vírus. O rapaz morreu 3 meses depois no Hosp. Brigadeiro. Desde aquele ano eu me envolvi em muitos programas e diagnósticos mesmo depois de sair da área médica em 1999. O tratamento evoluiu, o que não evolue é a estupidez humana, não conseguimos universalizar nem tratamento para doenças como a tuberculose imagine uma doença complexa como Aids...Não tem como a gente não se envolver, perdi bons amigos que lembro até hoje,
    Brigadao por trazer o assunto assim com emoção, me fez pensar em tanta gente boa...bjs

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  4. Oi Roberto, meu facilitador do EMPRETEC pessoal
    Primeiro é uma imensa satisfação saber da sua visita ao Lounge Empreendedor. Volte sempre!
    Realmente a estupidez e preconceito são os entraves mais complicados da luta contra doenças como a AIDS.
    Falar abertamente e conviver com essa realidade pode ser doloroso, mas é o caminho para quebrar mitos e paradigmas.
    Um beijo e aparece na vida real também
    Sucesso sempre
    Ana Maria

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  5. Oi Aninha, parabéns pela bela forma abordada sobre um assunto tão importante na vida das pessoas. Como você mesma disse, essa doença não exclui pessoas, ao contrário, todos podem ser contagiados, mas para que isso não aconteça precisamos que a consciência da humanidade mude. Também tenho um primo soropositivo, sei como é essa história de preconceitos...
    Grande beijo e fique com Deus, Sucesso Sempre.
    Obs. Ao ler os comentários do Roberto Ambrósio, também lembrei de pessoas boas que tanto gosto, Ambrósio, sua esposa Zezé, você, Cris, Edu... Grande beijo. Antenor Bernardes

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  6. Oi Ana,
    mais uma vez Parabéns pela sua forma de escrever e abordar alguns assuntos. Principalmente este assunto ainda cheio de tabus. Admirei muito sua postura neste artigo!!
    até mais
    EDU (japa!)

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  7. Ana,
    Parabéns pela coragem em postar um texto que particularmente para vc, seja tão delicado e emocionante, escrito de uma forma simples e tocante.
    Para quem a conhece desde a infância sabe que sempre foi uma pessoinha batalhadora e dedicada. Em 1994 a maioria de nossos amigos estava iniciando o curso superior, vivendo os bons momentos da última fase da adolescência: tínhamos 18 anos, uma carta de habilitação nas mãos e o mundo para conquistar. Lendo esse post fico imaginando o quanto foi difícil para vc amadurecer tão prematuramente, assumir responsabilidades e deixar de viver situações tão comuns àquela idade.
    Sempre digo que vc, que faz parte de minha história, é uma vitoriosa em sua vida acadêmica e profissional. Hoje posso acrescentar que além disso, você ganhou a guerra mais difícil que a vida poderia lhe trazer, dando a volta por cima e se tornando um orgulho e exemplo a todos aqueles que a conhecem.
    Parabéns pelo que você é, Ana Maria!!!
    Beijo
    Íris

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  8. Íris...
    Seu comentário encheu meus olhos de lágrima! Uma certa nostalgia dos tempos que a gente reclamava do uniforme marrom e verde, mas tempos que foram fundamentais para a construção do caráter e força que me trouxeram até aqui.
    Graças a Deus, a Dona Magali chegou a me ver entrar na faculdade e lembro da emoção dela no primeiro passeio que deu de carro comigo e minha habilitação em mãos.
    Obrigada por suas palavras!!! E mais: por me recordar tempos tão importantes em nossas vidas.
    Sabe o que é mais louco?!?
    Ter a certeza que mesmo em um reencontro pela web, todos vocês (CIL) são pessoas que posso contar em qualquer momento.
    Um beijo
    Ana Maria

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  9. Aninha,

    Que texto mais corajoso, autêntico e bem escrito que voce fez. Considero o melhor até hoje. Sua mãe muiiiiiiito se orgulharia de voce, fiquei comovida.

    Eu convivi passo a passo com o drama de sua mãe, uma inocente que lutou bravamente...

    Hoje voce se libertou - Parabéns!

    Sua Madrinha,
    Ana Maria

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  10. Adorei seu texto, me foi passado pela sua madrinha Dra. Ana Maria Magni, minha grande amiga. Eu conheci sua mae pessoalmente quando voce ainda era crianca, mas minha familia e eu saimos do Brasil e perdi contato, porem sempre tive noticias de voces atraves da Ana. Sempre admirei a Magali e me identificava um pouco com ela pelas nossas historias de vida, ate aquela epoca, serem muito parecidas. Tenho certeza de que ela estaria orgulhosa da filha, uma pessoa maravilhosa, corajosa e autentica. Parabens!
    Que Deus sempre ilumine seu caminho.
    Que a luta contra o preconceito seja sempre vencedora e que as pessoas sejam mais esclarecidas e menos ignorantes.
    Um grande beijo no seu coracao!
    Angela Thiem

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  11. Ana,

    Parabens! Sua coragem não me surpreende. Voce é uma vitoriosa, tanto profissionalmente como pessoalmente.

    Com certeza, sua mãe sabia que teria muito orgulho de voce. Infelizmente tentamos poupar voce do sofrimento e acabamos por impedir uma maior aproximação sua com sua mãe no final de sua vida.

    Pode ter certeza que, voce e sue irmão eram a maior preocupação dela. Lutamos de todas as formas para prolongar sua vida, mas a "vergonha" acabou por levar sua mãe, uma pessoa íntegra, correta, religiosa, que não aceitou essa afronta da vida.

    Parabens por sua coragem! Muito me orgulho de voce.

    Sua tia
    Heleninha.

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  12. Tia Lena e tia Ana

    Que boa surpresa os comentários de vocês aqui no Lounge Empreendedor.
    Vocês me fizeram chorar!
    Saibam que não me sinto tão corajosa pelo texto, mas sim por ter assumido a vida de frente depois do susto e do medo inicial.
    Escrever é muito fácil pra quem viveu todas as experiências que vivi. E costumo contar minha história para muitas família que passam pela mesma situação.
    Na verdade, tenho muito orgulho pela forma como minha mãe me educou, me protegeu e transformou aquela menina mimada nessa mulher que hoje vocês conhecem.
    Nem toda a super proteção da "dona Magali" puderam me poupar da realidade. A vida não nos poupa, tia Lena... Nem que a gente queira! E você também sabe muito bem disso.
    Obrigada de coração pelas palavras de vocês! Palavras que talvez tragam respostas que minha própria mãe quisesse me dar!
    Não lamento a forma como todas vocês tenham conduzido esse período. Aprendemos muito.
    Tenho o maior orgulho desse trio "porreta" de primas que SEMPRE estiveram juntas.

    Um beijo
    Aninha

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  13. Angela

    Obrigada pelo respeito, admiração e carinho com a minha família.
    Também espero que as pessoas consigam tirar suas máscaras e que a luta contra o preconceito seja sempre vencedora - seja em relação a AIDS, ao homossexualismo, ao racismo ou o que vier.

    Um beijo e que Deus sempre ilumine os caminhos de todos nós

    Aninha

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  14. Parabéns pela coragem em revelar essa história. Infelizmente o preconceito ainda é muito grande em nossa sociedade. Fiquei um pouco mais seu fã.

    José Luiz

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  15. Texto maravilhoso, história para se emocionar. Deus abençoe sua mãezinha por ter criado um ser forte como vc. E parabéns, Ana, por conseguir transmitir uma mensagem tão importante, com um sorriso no rosto. Você transmite a todos somente coisas boas: alegria, carinho e respeito ao ser humano. Abraços Patrícia Martins

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  16. Lindíssima...
    O melhor jeito de lutar contra o preconceito é lutando contra a ignorância de um povo inteiro!
    Parabéns e obrigado por seu relato.
    Seguimos lutando!
    Bj

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  17. Max...
    Que encontro maravilhoso aconteceu com você na #cpbr4.
    Orgulho danado em tê-lo no Lounge Empreendedor!
    Qualquer preconceito precisa ser eliminado e para isso, educação é o caminho!
    Saudades.
    Beijo
    Ana Maria

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  18. Patricia e Jose Luiz
    Obrigada pelo carinho e pelo respeito à minha história.
    No presente, somos aquilo que nossas experiências do passado construíram em nós.
    Tenho o maior orgulho de tudo o que já vivi e espero aprender mais e mais a cada dia.
    Obrigada pela visita.
    Um beijo
    Ana Maria
    @anamariacoelho

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