Um homem rasga alguns papéis no carnaval e vai preso. Políticos rasgam nosso dinheiro em corrupção e são (re)eleitos. Um jovem mata uma criança, não presta socorro (e nem depoimento), mas tem sua identidade protegida. Rachas matam adolescentes nas estradas e avenidas das grandes cidades.
Queria evitar a polêmica do carnaval 2012 na coluna desta semana, mas não posso. Há fatos que me doem na alma. Não sou advogada, e muito menos juíza, para ponderar sobre os direitos dos infratores, mas sou mãe e educadora.
Tenho um filho com a mesma idade do menino que causou o acidente com o jet-sky na praia de Guaratuba, litoral de São Paulo, matando um menina de 3 anos. Sinto as dores das duas mães. Não posso julgar, mas ao acompanhar a cobertura da imprensa sobre o inquérito policial, me preocupo com os valores que criamos e multiplicamos pelas novas gerações. Instituimos a filosofia do "isso não vai dar em nada" e pior: nos acomodamos a ela!
Da maneira como a vida vem se desenhando, a estratégia para ser alguém de sucesso é renunciar, correr e fugir. Como se fugir resolvesse qualquer problema! Precisamos encarar a vida de frente. Ela não é fácil mesmo, mas vale para todos, independente da cor, da classe social ou do poder. Chega de hipocrisia.
Jovens têm sido entregues à sua própria sorte, sejam eles ricos ou pobres. Alguns até contam com a presença de seus pais, tios e padrinhos, mas que por trabalharem demais (ou seria apenas para demonstrar aquilo que têm muito mais do que aquilo que são?!?), realizam todas as suas vontades e compensam sua ausência com brinquedos, carros ou outros tipos de liberalidades. Outros, por desconhecerem sua origem ou não terem condições, simplesmente, estão abandonados por pura falta de melhores alternativas.
(Uau! Alternativas... Que alternativas teve a família que em pleno sábado de carnaval perdeu sua pequena filha?)
Vivemos uma confluência de crises em que o desequilíbrio financeiro, ambiental e social oferece oportunidades para a construção de novos pontos de apoio. Não podemos nos furtar a isso... Jovens serão os alicerces de um novo caminho e deveriam ser preparados à cidadania, à solidariedade e à participação ativa nas discussões políticas sobre sua cidade e seu país para assumirem um papel que um dia será seu. Entretanto, são estimulados a se esconder, a provar o poder por meio da força do dinheiro ou a negar a responsabilidade dos atos que cometem. Mais uma vez, eu me pergunto: "Que País é esse?" Que valores estamos espalhando por aí?
Os debates sobre a problemática da educação precisam tocar nestas feridas... Precisamos extrapolar o discurso a respeito da quantidade de vagas em creches ou sobre a definição dos papéis da família, da escola ou da igreja na educação e definir estratégias que contribuam para resgatar e alicerçar valores humanos que nos conduzam a uma nova sociedade.
A manutenção de uma dinâmica de vida pautada na lógica da reprodução capitalista e do poder, onde o pressuposto básico é a dominação e a exploração do homem pelo homem, o ter em detrimento do ser, a proteção em troca da transparência, comprometerá a cada dia mais as relações familiares e a formação de jovens empreendedores, corajosos e humanos.
Você prefere fechar os olhos e guardar segredos no fundo do baú; ou é chegada a hora de levantar o tapete e planejar uma saída dessa encruzilhada, olhando para o futuro e entendendo que existem valores e limites que precisam ser encarados e respeitados por todos?
Mostra a tua cara, Brasil!
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Se você é leitor do Lounge Empreendedor, sabe que evito posicionamentos pessoais acerca de temas que não tenham relação direta com o mundo de negócios. Entretanto, na coluna Boca no Trombone do jornal Mogi News, me senti no dever de escrever sobre os fatos da última semana que movimentaram a cidade em que moro (Mogi das Cruzes) e que foram temas de muitas conversas entre meus filhos, eu e meu marido.
O fortalecimento de uma cultura empreendedora passa pela redefinição de valores humanos que pautem uma nova economia, uma nova sociedade e um novo jeito de ser.
Espero que me entendam!
Posicionamento mais do que perfeito!
ResponderExcluirE como carioca ainda acrescento a barbaridade que temos visto por aqui, citando um único exemplo recente que foi o da menina de 12 anos que foi estuprada dentro de um ônibus, à luz do dia, na Zona Sul do Rio de Janeiro! E hoje o bandido ou, politicamente correto, "o suspeito", foi pego por um motorista de ônibus e seus passageiros quando tentava assaltar outro ônibus na mesma rota(sem medo, sem pudor!). E no Jornal ainda sai um elogio à rapidez da polícia ao localizar o bandido.
O que nós mães e pais de adolescentes, de crianças podemos fazer?
Por onde começar?
O debate aqui em casa é grande a respeito.
E por aqui a solução passa até por "fugir" para morar em cidades bem menores, mas não me conformo que a "fuga" seja uma alternativa válida.
Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//
Perfeito, Ana...
ResponderExcluirAdmiro você por sua sabedoria e sensibilidade, além de sua competência...
Beijo
Fátima Pedro