domingo, 18 de setembro de 2011

MINHA PASÁRGADA

"No interior da grande cidade de todos está a cidade pequena em que realmente vivemos."
(José Saramago)


Desde que anunciei meu retorno às atividades profissionais em São Paulo, a pergunta que mais tenho respondido não tem nada a ver com a proposta do novo emprego ou com os desafios que irei enfrentar, mas sim sobre a minha possível partida de Mogi das Cruzes.
Já se vão quase 6 anos desde que me instalei nesta cidade. Hoje, cidadã mogiana, é aqui que pretendo seguir a minha vida. Mogi das Cruzes é a "minha" cidade. É a cidade que me acolheu, onde meus filhos cresceram, onde construi o alicerce da minha vida profissional. Amo-a de paixão. Amo a relação que estabeleci com o município. E antes que alguém me pergunte: sim, eu acredito em relacionamentos entre cidades e pessoas. Assim como nós, cidades têm vida, têm personalidade, têm características únicas. E as de Mogi das Cruzes, me conquistaram.
Embora eu não possa contar histórias de infância vividas pelas ruas estreitas do centro, pelas represas de Taiaçupeba ou pelas propriedades rurais do Cocuera ou Taboão, amo a História da minha cidade. Algumas eu já sei de cor: o repouso dado aos Bandeirantes, a cultura oriental que semeou estas terras, o romantismo das velhas casas, o papo no mercado municipal. Aliás, foi entre um papo e outro que ouvi falar pela primeira vez sobre uma biquinha que ficava atrás da linha da ferrovia e de onde quem bebesse a tal “água da bica” não sairia mais de Mogi. Pois é... Alguém me deu um pouquinho dessa água disfarçada.
Mesmo com uma proposta de retorno profissional a São Paulo, cidade em que nasci e vivi até os 29 anos, não penso em deixar Mogi das Cruzes. Partirei para novos desafios profissionais, mas mantenho na Terra do Caqui meu refúgio, minha família e meu desejo de acompanhar seu desenvolvimento e crescimento sustentável. Que venha o futuro!
E adoraria convidá-los a vir comigo...
Cada um de nós pode construir sua própria Pasárgada, sua terra de venturas, alegrias e sonhos como descreveu Manuel Bandeira. Para isso, construa relações com sua cidade. Aceite suas qualidades e defeitos, suas vantagens e desvantagens e participe!
Ser cidadão é ter consciência de que é preciso participar para manter-se sujeito de seus direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas há também o outro lado da moeda. Cidadania pressupõe também deveres e responsabilidades. Afinal, quando se ama, deseja-se o bem e a justiça em seu sentido mais amplo.
No mês do aniversário da "minha" Mogi das Cruzes, deixo expresso o meu amor por esta cidade e a certeza de manter minha contribuição com todos aqueles que durante esse tempo me acolheram, confiaram nas minhas ações e entregaram tantos sonhos em minhas mãos.
Seguiremos sempre juntos, afinal "só quem ama é capaz de ouvir e entender estrelas", como disse Olavo Bilac.
 Por amar Mogi, adoro vivê-la cada vez mais viva! Obrigada!

SOBRE PASÁRGADA...
Vou-me embora para Pasárgada é um poema do escritor modernista brasileiro Manuel Bandeira. Este poema caiu no gosto dos intelectuais e também de pessoas comuns. É utilizado para dizer que existe um lugar onde a pessoa se sente bem e pode realizar os seus desejos sob o meio ideal e imaginário como no sentimento de utopia e nostalgia.

Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira",
Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

ANA MARIA MAGNI COELHO
Publicado no Caderno Opinião
Boca no Trombone - MogiNews
17 de setembro de 2011




Um comentário:

  1. adorei site que ajuda nos a ficar atemto a antigamente,na cidade de mogi das cruzes.

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