NEM TODO EMPREENDEDOR NASCE SABENDO
O antigo compartilhamento, escambo, empréstimo, troca ou aluguel de coisas entre as pessoas vem ganhando força e uma forma capaz de transformar os negócios e o modo como consumimos e vivemos. O consumo colaborativo, turbinado e disseminado pelas redes sociais, dispositivos móveis e tecnologias que permitem qualquer pessoa encontrar locais, produtos ou serviços disponíveis e compartilháveis ao redor do mundo criou um novo modelo de negócios.
Conhecidos como “Negócios Mesh”, em função do livro de Lisa Gansky, a idéia principal da proposta é a criação de negócios baseados no compartilhamento em substituição à posse de produtos e serviços.
Se voltarmos no tempo, podemos facilmente nos lembrar de artesãos, comerciantes ou produtores agrícolas trocando produtos entre si sem a necessidade de dinheiro. Perdidas no tempo após o advento do capitalismo, do dinheiro e do paradigma da acumulação de bens, essas práticas podem reduzir a produção desnecessária de novos itens e embalagens, incentivar o reuso e reduzir o impacto sobre o meio-ambiente.
Você já parou para pensar se precisa TER um carro ou se precisa SER transportado?
Ainda que pareça uma loucura, avalie o quanto você precisa realmente possuir as coisas e quais seriam as vantagens de usufruir seus benefícios sob uma perspectiva de compartilhamento e sem os aborrecimentos da propriedade. Se você mora em um apartamento de 50 e poucos m2 sabe que ter um kit completo de ferramentas é um “sonho” praticamente inviável e talvez, por isso, você já tenha emprestado do seu simpático vizinho a furadeira ou a máquina de lavar carros.
A idéia do consumo colaborativo transforma em negócio essa filosofia e sólidos empreendimentos já foram criados em torno de uma economia que substitui as palavras “consumo” e “compra” por “compartilhamento” e “troca”. Uma loja virtual que vende roupas infantis e brinquedos enviados pelos próprios clientes, agências que oferecem carros ou bicicletas para aluguel nos grandes centros urbanos, um site que permite alugar quartos para hospedagem em casas de moradores de vários países, escritórios de coworking ocupados por diferentes pessoas e empresas. Esses são apenas alguns exemplos dessa nova tendência.
Além de criatividade, conectividade e colaboração, negócios mesh devem ter outras características comuns: oferecem produtos e serviços cujo benefício possa ser desfrutado sem a necessidade de possuí-los rompendo o conceito tradicional da propriedade privada individual; contam com serviços ou plataformas que permitem e encorajam o compartilhamento; alavancam os ativos físicos através da redistribuição de produtos usados ou novos que já não são mais necessários e constroem um eco-sistema sustentável em torno de toda a cadeia de consumo.
Consumo que a cada escolha deve se tornar mais consciente. Cidades compactas e com menores espaços domésticos, relações humanas mediadas por mídias digitais, escassez dos recursos naturais e diversos outros fatores nos obrigam a repensar nosso relacionamento com o consumo alinhando valor ao custo real de nossas escolhas.
É inegável que pessoas com interesses semelhantes se unem facilmente para partilhar e trocar ativos menos tangíveis, tais como espaço, conhecimentos e habilidades. A mudança fundamental se dará quando tal compartilhamento chegar também ao nosso relacionamento com as coisas e com as coisas em nossas próprias vidas. Ter não significará ter para sempre!
É claro que as pessoas sempre desejarão possuir coisas, mas a filosofia do consumo colaborativo pode ampliar nossas próprias possibilidades de acesso. Ninguém precisa abandonar seus sonhos ou seu modo de vida. Serviços mesh devem ser convenientes e contribuir para que mais pessoas tenham acesso a bens e serviços de forma mais barata e sustentável do que os possuindo perpetuamente. Já existem, inclusive, clubes de consumo colaborativo para veículos terrestres, aéreos e marítimos na classe AAA (e mais um A apenas para reforçar): Ferrari na segunda, Maserati na quarta, helicópteros na sextas e uma bela lancha aos sábados e domingos. Basta desembolsar adesão e mensalidades para a empresa For Private Motorinvest e tudo estará a sua disposição.
Na verdade, o que importa não é o valor, mas a capacidade de mudança que essa tendência sinaliza. Para serem sustentáveis, negócios mesh devem oferecer ao consumidor acesso a coisas que antes eles não teriam como usufruir, aumentando sua felicidade e reduzindo seu estresse. Uma mesma comunidade poderá compartilhar uma bicicleta ou uma ferramenta com o vizinho e, ao mesmo tempo, não aceitar um serviço de troca de roupas ou alugar o carro nos momentos em que ele fica parado no estacionamento do seu trabalho. A mudança será gradativa, sem nenhuma conotação de filantropia, mas sim, de consciência.
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