sábado, 7 de janeiro de 2012

PAÍS DAS MULHERES RICAS


“Ser rico é uma delícia”, “se o rico não gastar, o dinheiro não circula”, “minha família é muito rafinada” (sim, rafinada em lugar de refinada!) foram algumas pérolas que deram início às conversas sobre TV nesta semana depois da estréia de “Mulheres Ricas”, o novo reality show da TV Bandeirantes.
Mulheres comprando roupas, sapatos, sendo paparicadas por empregados e tomando champanhe durante o dia todo exibiram um misto de ostentação e cafonice poucas vezes visto, seja na vida real ou em qualquer outra emissora de TV. 2012 seria mesmo o fim do mundo?!?
De início, confesso que me diverti, mas aos poucos passei a me sentir constrangida em assistir cenas tão caricatas e deslumbradas sobre o universo das mulheres que, na maioria das vezes, para se tornarem ricas trabalham muito e realizam escolhas muito maiores do que a cor da roupa de sua boneca Barbie.
Do lado de cá da TV, o programa preencheu seis dos dez temas mais comentados no Twitter (Aliás, acho que o que realmente me divertiu no programa foram os comentários no microblog. Chorei de rir!) As conversas online passaram por temas como distribuição de renda, valor do trabalho e o evidente assassinato da língua portuguesa. 
Por um pouco mais de uma hora, evidenciamos a mais completa tradução de um novo conceito de elite que valoriza apenas a capacidade de quem pode gastar mais. (Opa!!! Será que sempre foi assim?!?)
Entretanto, no verdadeiro sentido da palavra, a elite deveria representar uma parcela da sociedade com requinte de educação, conhecimento, cultura e tradição que lhe permita dominar através de um elenco de obras e atitudes em favor da sociedade.
A mesma sociedade que sofria com as chuvas e com o recomeçar de suas vidas... Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco... Ah, sim, Pernambuco! (= Integração Nacional = Fernando Bezerra Coelho = vergonha nacional) Enquanto as novas celebridades da televisão brasileira ostentavam seus carros alugados (?!?), suas bolsas de marca e suas bebidas na TV, muitos cidadãos comuns sofriam com medo da chuva ou choraram a perda de familiares, bens e de sua própria dignidade.
Renato Russo, certamente gritaria: “Que País é Esse?”.
Um país que valoriza pessoas por aquilo que elas têm. Um país que prefere falar sobre a vida das pessoas no lugar de resolver suas mazelas. Um país que decora o nome de celebridades relâmpago, mas que rapidamente se esquece dos nomes de ministros corruptos ou de políticos participantes de todos os tipos de esquemas.
Pois é, Renato Russo...  "Terceiro Mundo, se for. Piada no Exterior. Mas, o Brasil vai ficar rico. Vamos faturar um milhão." Que país é esse?
Um país que leva ao horário nobre da televisão, uma gama sortida de pessoas superficiais, fúteis e ignorantes culturalmente enquanto incentiva a multiplicação de um "subproduto" de gente que se julga acima das demais em função de seu banho de piscina no Copacabana Palace, mas que na verdade são apenas pobres pessoas ricas.
Por isso, se você não ganhou na mega-sena, se (assim como eu) trabalha mais de 40 horas por semana, se batalha para conseguir pagar a matrícula da escola e/ou o material escolar dos seus filhos... Orgulhe-se! Você é muito mais rico e feliz!



ANA MARIA MAGNI COELHO
Publicado no Caderno Opinião - MogiNews
07 de janeiro de 2012
Texto inspirado em matéria na Revista Veja

4 comentários:

  1. Sempre é bom refletirmos sobre a superficialidade da nossa sociedade! Excelente artigo, Ana Maria Magni Coelho!

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  2. Obrigada, Sam.
    Hoje, quando precisei escolher o tema da minha coluna não consegui pensar em outra coisa senão a relação entre o tal programa e o momento em que vivemos: enchentes, corrupção, cracolândia, ficha suja...
    Não dava pra colocar tudo no texto e fui pelo lado das enchentes. Entretanto, a reflexão é ainda mais profunda!
    Como me orgulho em ter ouvido muita Legião Urbana: Que País é Esse que leva #MulheresRicas para as hastags do Twitter e esquece a necessidade de discutir o #FichaLimpa, por exemplo?!?
    A superficialidade tem dominado as próprias reflexões...rs...
    Um beijo e sucesso!
    @AnaMariaCoelho

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  3. Oi Ana!
    Prepare-se, porque vem mais anestesiantes intelectuais.. BBB12, fico indignada como esses programas dão audiência !!!
    Os assuntos que deveriam ser mais abordado, como acessibilidade, adoção, inclusão não dão ibope.
    "Que pais é esse?" .. cabe bem aqui.
    Bjs
    Lika Martins

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  4. Lika
    Prefiro não discutir o gosto televisivo da audiência brasileira, afinal controle remoto foi feito para que cada indivíduo realize suas próprias escolhas.
    O que me incomoda realmente é pensar que tipo de valores estamos construindo e replicando em sociedade. Que país é esse que deixa de fora acessibilidade, inclusão, adoção, energia ou corrupção de fora de todas as pautas?!?
    Um beijo e obrigada pela visita mais uma vez.
    Sucesso sempre...
    @AnaMariaCoelho

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