"Só um economista imagina que um problema de economia é estritamente econômico."
-- Celso Furtado --
Nas últimas semanas me atrevi a revisar algumas obras de Celso Furtado. Talvez por minha paixão pela Economia Criativa, talvez pela necessidade de manter a mente ativa ou então, simplesmente saudade de boas obras intelectuais. O mais interessante é perceber o quanto tudo parece tão atual. Enquanto falamos na superação do subdesenvolvimento e na construção de um país de classe média, Celso Furtado rejeita a visão que sempre imperou em relação as teorias do desenvolvimento de que a força expansiva do desenvolvimento é dada pela canalização da capacidade da criação tecnológica como caminho para o processo de acumulação. Uau! Isso tudo em semana de Campus Party Brasil. Quando um bando de nerds se une e acredita que juntos poderão salvar o país de todas as suas misérias.Na verdade, o avanço da difusão tecnológica, ao contrário do que aconteceu em outros países, pode produzir efeitos colaterais perigosos como o subemprego e o reforço das estruturas tradicionais de dominação e a sua substituição por outras semelhantes. A globalização dos mercados, muitas vezes, obrigava nossos nerds a acompanhar a difusão da civilização industrial, o que acarretava numa dependência tecnológica imensa impondo padrões de consumo que não existiam, até então, por aqui. Tudo vinha de fora. O Vale do Silício era o sonho!
Celso Furtado |
Assim, meu querido Celso Furtado (se assim posso tratá-lo), até que ponto este atual patamar de avanço tecnológico pode ser absorvido por nós – o país da classe média – para que possamos crescer, distribuir renda e ainda criar condições para que a tecnologia e o padrão de consumo atuais sejam sustentáveis para esta nossa sociedade?
Como você mesmo diz, precisamos pensar na coletivização dos meios de produção e a sociedade precisa assumir o protagonismo frente a otimização e alocação dos recursos - sejam naturais, humanos ou financeiros; devemos priorizar o consumo daquilo que satisfaça nossas necessidades básicas para que o excedente modifique e componha seu papel na distribuição de renda (parece impossível, mas não é, viu galera?!?) e o país deve brigar cada vez mais pelo ganho de autonomia externa, assumindo uma posição competitiva no mercado externo – inclusive com suas micro e pequenas empresas.
Por essas e outras, Celso Furtado é considerado o maior economista brasileiro da história. Claudia Leitão, atual secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura, despertou minha paixão por ele e tem razão quando o diz mais atual do que nunca. Suas estratégias têm como fundo básico a autonomia do país na ordenação de suas atividades econômicas, visando a redução de suas desigualdades sociais geradas, principalmente, na periferia.
Sempre no centro do poder, ele dizia lograr os objetivos da nação a uma forte vontade política apoiada em amplo consenso social. Talvez para ele o melhor ditado seria “uma andorinha só não faz verão” e por isso, seus escritos hoje ainda inspirem tanta gente.
Falecido em 2004, talvez Celso Furtado tenha levado consigo questões como qual seria a forma de mobilizar toda a sociedade para um projeto nacional se os interesses em manter o atual status quo parecem ser tão dominantes – mudam-se as classes sociais através de nomenclaturas e não através de acesso real, por exemplo. Como estabelecer uma organização social legítima se os poderes executivo, legislativo e judiciário ainda não estão maduros no processo de viver a democracia? Como fomentar a difusão tecnológica própria se carecemos de uma estrutura educacional eficiente, de infraestratura de cabeamento que leve o acesso a todo o país e, se assistimos passivos o desmantelamento das poucas unidades estatais de pesquisas e desenvolvimento?
Infelizmente, Celso, o Vale do Silicío ainda não aqui.
Ótima dica oferecida pelo Roberto Ambrósio no facebook que complementa muito bem o tema da Classe Média brasileira. Obrigada, meu amigo!
ResponderExcluirhttp://www1.folha.uol.com.br/poder/874777-e-um-erro-falar-que-existe-nova-classe-media-diz-sociologo.shtml
Nosso país é complicado, são vários fatores além de puramente a economia que nos levam a este estado cronico.
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