sábado, 2 de fevereiro de 2013

O PAÍS DA CLASSE MÉDIA

"Só um economista imagina que um problema de economia é estritamente econômico."
-- Celso Furtado --


Nas últimas semanas me atrevi a revisar algumas obras de Celso Furtado. Talvez por minha paixão pela Economia Criativa, talvez pela necessidade de manter a mente ativa ou então, simplesmente saudade de boas obras intelectuais. O mais interessante é perceber o quanto tudo parece tão atual. Enquanto falamos na superação do subdesenvolvimento e na construção de um país de classe média, Celso Furtado rejeita a visão que sempre imperou em relação as teorias do desenvolvimento de que a força expansiva do desenvolvimento é dada pela canalização da capacidade da criação tecnológica como caminho para o processo de acumulação. Uau! Isso tudo em semana de Campus Party Brasil. Quando um bando de nerds se une e acredita que juntos poderão salvar o país de todas as suas misérias.Na verdade, o avanço da difusão tecnológica, ao contrário do que aconteceu em outros países, pode produzir efeitos colaterais perigosos como o subemprego e o reforço das estruturas tradicionais de dominação e a sua substituição por outras semelhantes. A globalização dos mercados, muitas vezes, obrigava nossos nerds a acompanhar a difusão da civilização industrial, o que acarretava numa dependência tecnológica imensa impondo padrões de consumo que não existiam, até então, por aqui. Tudo vinha de fora. O Vale do Silício era o sonho!
Celso Furtado
Assim, meu querido Celso Furtado (se assim posso tratá-lo), até que ponto este atual patamar de avanço tecnológico pode ser absorvido por nós – o país da classe média – para que possamos crescer, distribuir renda e ainda criar condições para que a tecnologia e o padrão de consumo atuais sejam sustentáveis para esta nossa sociedade?
Como você mesmo diz, precisamos pensar na coletivização dos meios de produção e a sociedade precisa assumir o protagonismo frente a otimização e alocação dos recursos - sejam naturais, humanos ou financeiros; devemos priorizar o consumo daquilo que satisfaça nossas necessidades básicas para que o excedente modifique e componha seu papel na distribuição de renda (parece impossível, mas não é, viu galera?!?) e o país deve brigar cada vez mais pelo ganho de autonomia externa, assumindo uma posição competitiva no mercado externo – inclusive com suas micro e pequenas empresas.
Por essas e outras, Celso Furtado é considerado o maior economista brasileiro da história. Claudia Leitão, atual secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura, despertou minha paixão por ele e tem razão quando o diz mais atual do que nunca. Suas estratégias têm como fundo básico a autonomia do país na ordenação de suas atividades econômicas, visando a redução de suas desigualdades sociais geradas, principalmente, na periferia.
Sempre no centro do poder, ele dizia lograr os objetivos da nação a uma forte vontade política apoiada em amplo consenso social. Talvez para ele o melhor ditado seria “uma andorinha só não faz verão” e por isso, seus escritos hoje ainda inspirem tanta gente.
Falecido em 2004, talvez Celso Furtado tenha levado consigo questões como qual seria a forma de mobilizar toda a sociedade para um projeto nacional se os interesses em manter o atual status quo parecem ser tão dominantes – mudam-se as classes sociais através de nomenclaturas e não através de acesso real, por exemplo. Como estabelecer uma organização social legítima se os poderes executivo, legislativo e judiciário ainda não estão maduros no processo de viver a democracia? Como fomentar a difusão tecnológica própria se carecemos de uma estrutura educacional eficiente, de infraestratura de cabeamento que leve o acesso a todo o país e, se assistimos passivos o desmantelamento das poucas unidades estatais de pesquisas e desenvolvimento?
Infelizmente, Celso, o Vale do Silicío ainda não aqui.

2 comentários:

  1. Ótima dica oferecida pelo Roberto Ambrósio no facebook que complementa muito bem o tema da Classe Média brasileira. Obrigada, meu amigo!
    http://www1.folha.uol.com.br/poder/874777-e-um-erro-falar-que-existe-nova-classe-media-diz-sociologo.shtml

    ResponderExcluir
  2. Nosso país é complicado, são vários fatores além de puramente a economia que nos levam a este estado cronico.

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário.
Ficarei feliz em conhecer sua opinião...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Preferidos do Lounge Empreendedor

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição Uso Não Comercial