sábado, 16 de fevereiro de 2013

VOCÊ CONHECE GERSON?


Se você tem menos de 30 anos talvez não se lembre do célebre comercial do cigarro Vila Rica, onde o tricampeão Gérson falava a famosa frase: "... porque você tem que levar vantagem em tudo, certo?". Ainda que não se lembre da propaganda, tenho certeza que já ouviu alguém utilizando a "Lei de Gérson" para simbolizar o oportunismo e a falta de escrúpulos típicos de uma grande parcela de nossa sociedade. Ou seja, atribuiu-se à Lei de Gérson uma das razões para nosso subdesenvolvimento e estão aí o Mensalão, crescimentos patrimoniais inexplicáveis, os jatinhos da FAB para Fernando de Noronha e muitas outras coisas que - infelizmente - não me deixam mentir.
Concordo que esta postura oportunista realmente contribui para nos manter numa situação constrangedora. Só que a "Lei de Gérson", na verdade é muito mais antiga que o próprio. No excelente livro "Mauá - Empresário do Império" de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras), percebe-se que há quase duzentos anos atrás esta lei já era cumprida. Aliás, essa deve ser a lei mais antiga do Brasil, pois desde as capitanias hereditárias nossa história é pontilhada de exemplos de oportunismo e falta de escrúpulos.
Levar vantagem em tudo não significa que os outros têm que levar desvantagem. O oportunismo foi incorporado à frase por quem a leu/ouviu, não por quem a escreveu/disse. O problema é que passou a ficar (para usar um conceito atual) "politicamente incorreto" levar vantagem em alguma coisa. Na verdade, parece que nossa sociedade se divide em dois grandes blocos: um que leva vantagem em tudo (no sentido pejorativo) e outro que não pode levar vantagem em nada. Como se só existissem estes dois extremos.
Acontece que dá para levar vantagem em tudo sem fazer com que os outros saiam em desvantagem. Você não precisa esmagar a outra parte para sair ganhando. Aliás, esse comportamento predatório sempre vem acompanhado do efeito bumerangue.
Voltando ao livro do Barão de Mauá: ele constatou uma diferença básica entre o comportamento dos brasileiros e ingleses no comércio. Os nossos ancestrais, muito mais espertos do que o mortal comum, adotavam práticas comerciais baseadas no calote de dívidas, na postergação de prazos via manobras jurídicas, na corrupção do Estado e do Judiciário. Em resumo: eles já faziam o que se faz hoje. Naquela época, os comerciantes ingleses adotavam uma política comercial íntegra: pagavam suas obrigações em dia, não recorriam ao submundo do tráfico de poder nem usavam o Judiciário como instrumento econômico protelatório. Conclusão: os ingleses tinham acesso a linhas de crédito em bancos internacionais a juros baixos e prazos longos, enquanto os brasileiros tinham seu crescimento barrado pela falta de crédito crônica.
Quem é que levava vantagem mesmo?

Aí está o vídeo que gerou a polêmica e consagrou a conhecida "Lei de Gerson".

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