quarta-feira, 5 de setembro de 2012

FAVELA INN

 "Realize o seu sonho, você mesmo vai ter que fazer isso...eu não posso acordar você.
Você é quem pode se acordar."
-- John Lennon --


Hoje eu conheci a Cris! Desta forma #SimplesAssim, Cristiane Oliveira é conhecida pelo Morro do Chapéu Mangueira.
Muito mais do que mais uma mulher da comunidade em que vive, a Cris é uma empreendedora. Uma mulher com um brilho nos olhos fascinante, com paixão na fala e com amor, muito amor, nos gestos e nas suas ações.
Cris é mãe de 4 filhos, esposa do Wagner e gestora do hostel Favela Inn. (Se você não sabe direito o que é hostel – afinal, antes de assumir a área de turismo no SEBRAE, eu também não sabia - essa é uma daquelas palavras chiques que servem para descrever algo que conhecemos desde crianças: albergue. Olha a descrição no wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Hostel)
O Favela Inn surgiu de uma necessidade (como muitos empreendimentos brasileiros) de um grupo de guias de turistas estrangeiros que levavam seus grupos para realizar a trilha da Babilônia que quando na descida do morro não encontravam um bom lugar para que os turistas pudessem descansar, tomar uma caipirinha ou comer a tradicional feijoada brasileira.
Com algumas casas inicialmente alugadas, uma laje sem utilização e muita, mas muita boa vontade nasceu o Favela Inn. Talvez, você até conheça histórias parecidas, mas a tarde de hoje me renderia bons parágrafos para vários posts aqui no Lounge Empreendedor. Vou começar contando sobre aquilo que me tocou o coração.
Desde a Rio+20, em maio deste ano, eu estava ensaiando a visita ao morro do Chapéu Mangueira depois de ler várias histórias sobre a Cris e seu empreendimento. Se ler histórias já é gostoso, imagine quando podemos vivê-las...
Além da visão sobre o negócio, confesso que eu estava louca para subir um morro carioca pela primeira vez. Não sei vocês, mas eu morria de curiosidade em ver (e viver) a experiência de visitar uma unidade pacificada no Rio de Janeiro. Afinal, o que é “o morro”? Como vivem as pessoas? O que significa, de fato, ser “pacificado”?
Pois lá fui eu... Desci do salto (quem me conhece sabe que isso é quase um marco para a história também) e graças à gentil e – super - acolhedora equipe do SEBRAE-RJ, consegui realizar o meu desejo. (Obrigada Mariângela, Bruno e toda turma que fez isso tudo acontecer!)
Logo que chegamos, a primeira surpresa: um ecoponto para coleta seletiva de lixo bem na entrada da comunidade e a certeza de colocar o Lounge Empreendedor à favor de uma campanha de verdade que é conduzida pelo Instituto Coca-Cola. Vi o #VivaPositivamente acontecendo sem ensaio e sem agenda! Ali, ao vivo e a cores, a coleta seletiva acontecia e a turma da cooperativa Doe Seu Lixo fazia a retirada do material para triagem e revenda. E o mais legal: a estratégia da coleta seletiva no ecoponto do Morro do Chapéu Mangueira está associada a descontos na conta de luz à comunidade. Ou seja, quanto mais lixo você separa, mais desconto irá receber na sua conta de energia! Não é legal?
Por ser pedagoga e trabalhar muito com aprendizagem de adultos, sei que se desejamos mudar efetivamente um hábito cultural precisamos dar incentivos reais para que as pessoas se mobilizem para um novo comportamento. É preciso que a pessoa perceba um ganho pra si e então, conscientize-se sobre o ganho para sua comunidade, sua cidade, seu mundo... Aja localmente, pense globalmente – já diz o conceito. Primeiro ponto positivo desta tarde. Check!
Seguimos a caminhada pelas ruas estreitas e pelas escadas do morro até que pudéssemos chegar ao hostel e o Wagner (marido orgulhoso da Cris) faz questão de parar no Bar do David. O David é mais um orgulho empreendedor do Chapéu Mangueira e foi segundo colocado no concurso de comidas de buteco com seus croquetes e feijoada de frutos do mar. David, em pessoa, vem até a porta para bater papo conosco. “Trabalhamos todos juntos por aqui. O pessoal fica hospedado no hostel, mas precisa ter um bom lugar para comer, certo? Então, estamos aqui para atendê-los!”
É claro que como boa consultora de negócios, logo bati os olhos na cozinha, nas mesas e cadeiras, na geladeira... Tudo impecável. Simples, mas impecável! Admito que, mesmo sem ser uma grande apreciadora de frutos do mar, saí do Chapéu Mangueira com vontade de provar a feijoada do David. Segundo ponto positivo da tarde. Check!!
Mais algumas ruas pra lá e pra cá (Ufa! Preciso mesmo de uma academia!) e chegamos à parede colorida que dá o tom de todo o conceito do hostel Favela Inn – três andares, três quartos, uma laje e muito acolhimento.
Cris está na laje só esperando a gente chegar... Água, café, chá e raspinhas de casca de laranja preparadas por ela mesma aguardam a nossa turma. A conversa fluiu solta: a história da idealização do negócio, o auxilio do SEBRAE, a importância da formalização do negócio, a definição da logomarca, o conceito de sustentabilidade, a reutilização de materiais, a decoração, o tapete feito com malote de banco, as telhas de caixinhas de leite, o marmitex que é entregue na comunidade, a feijoada para os hóspedes e amigos, as reservas pela internet, os controles financeiros, a missão, visão e valores do hostel impressos na parede.


VISÃO: Ser um centro de oportunidades de trabalho permanente e integração do asfalto com a comunidade e com pessoas de diferentes nacionalidades por ser conhecida nacional e internacionalmente como a opção de hospedagem em comunidades no Rio de Janeiro – RJ, Brasil.

MISSÃO: Recepcionar e acolher com eficiencia e amor , possibilitando a interação dos hóspedes com a comunidade e a criação de oportunidade, geração de renda e de conhecimento para a comunidade.

“Sempre falo para as pessoas que elas precisam formalizar seus negócios. Quando decidi colocar wireless para os hóspedes aqui no Favela Inn, como pessoafísica eu não consegui, mas depois de formalizada em dois dias vieram instalar”, nos conta Cris. Ah!!! Como sou apaixonada pelo meu trabalho que me permite conhecer coisas assim...
Cris é uma grande liderança. Tem voz e usa sua voz a favor da comunidade. Ela tem consciência - e expressa em sua visão - que o hostel é apenas uma “enzima” que pode desencadear uma nova consciência de desenvolvimento para o morro do Chapéu Mangueira. Cris e Wagner sabem que sozinhos não podem muito, mas que se outras pessoas acreditarem no empreendedorismo como viabilidade de vida, muita coisa pode mudar.
Não é a toa que os quartos vivem cheios! (A Cris já está organizando as reservas para a virada de ano.) Os hóspedes são parte desta mudança!
Conheci Joana, uma estudante de Barcelona que coincidentemente estava deixando o Favela Inn nesta tarde depois de três meses vivendo com a família da Cris e com a comunidade do Chapéu. Visivelmente emocionada com a despedida, Joana contou que chegou no morro para estudar sobre o papel da mobilização das pessoas em benefício do desenvolvimento local, mas que aprendeu tanto e fez tantas entrevistas e conversas que hoje tem certeza que ela mesma se desenvolveu e que terá que rever muitos dos seus conceitos depois de conviver com gente que acredita, empreende e vive com orgulho por ali.
O abraço de despedida das duas – Cris e Joana – emocionou todos nós!
Balançada com a despedida, Cris no conta que é assim com vários hóspedes. “A Joana me levou para conhecer alguns lugares aqui no Rio que nem eu mesma conhecia. Teve uma croata que passou 6 meses aqui com a gente, que na despedida levamos até o cachorro na Kombi para o aeroporto.”
É assim, o Favela Inn... Um lugar com uma vista privilegiada do Leme ao Pontal da orla carioca... Um lugar colorido na decoração e na alma da Cris e da sua família! Que orgulho ter passado essa tarde por ali...
O meu abraço de despedida na Cris também me emocionou... Ah, o Wagner tinha ido embora um pouco antes, pois hoje era dia de oficina do SEBRAE para administrar o seu dinheiro. É ou não é de se orgulhar?!?

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Com certeza, logo vou contar mais sobre outras lições desta tarde... Se você é do Rio de Janeiro e quer conhecer mais sobre a Cris e o Favela Inn, reserve sua agenda para o dia 22 de setembro. Se você ficou apenas curioso sobre esse dia especial, coloquei todas as fotos num álbum no facebook.


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