Ao dar vida à bailarina Nina Sayer, em "Cisne Negro", a atriz Natalie Portman convenceu o telespectador o quanto atormentada pode se tornar a nossa mente ao ser desafiada de forma arbitrária, principalmente quando nos vemos sem referências. Apesar de ter como cenário o mundo mágico do balé (que sempre me fascina e encanta em função da minha história com a dança), o longa tem como bojo a rivalidade que nasce entre as pessoas que têm em comum talento e capacidade técnica, mas, também, o desejo de ocuparem o mesmo lugar e de conquistarem o mesmo nível de reconhecimento.
Para chegar ao status de grande estrela do espetáculo O Lago dos Cines, Nina é instigada por seu professor, o questionável e onírico Thomas Leroy (Vicent Cassel), a abandonar a doçura das saias de tule para experimentar a competitividade, a audácia e a luxúria. Afinal, não bastava interpretar bem o cisne branco, com seus metódicos trejeitos virginais, imaculados e encantadores Para ser o cisne negro era preciso sentir mais que amor à dança. Era necessário ter ódio e preconceito, entregar-se ao prazer sem limites e passar por cima daquelas com quem, até então, dividia o palco e as palmas.
Muitos que assistiram "Cisne Negro" defendem que a história é exagerada e que não passa de um thriller psicológico repleto de estereótipos. Concordo, mas a película chama a atenção justamente por conta de sua estrutura dramática. Se fosse água com açúcar, repleta de bailarinas dando piruetas e fazendo pliês, não teria chamado a atenção da crítica e trazido a tona a questão da competência e da responsabilidade que têm àqueles que estão em cargos de chefia. No comando, suas atitudes - por vezes apaixonadas e impensadas - podem mudar vidas, fazendo delas um eterno fechar de cortinas.
Ocorre que incentivar a competitividade e a superação dentro do mundo corporativo pode ser valioso (até certo ponto). Muitos colaboradores, ao serem provocados, apresentam melhores resultados. Entretanto, é preciso cuidado e respeitar o modo de ser e os limites de cada um, pois nem toda mente está apta para superações a qualquer custo.
Impor mudanças drásticas nas pessoas e em seus comportamentos, com a promessa de que só assim chegarão a algum lugar e conseguirão tomar o lugar de seja quem for é um erro - tanto quanto valorizar alguns e deixar outros, igualmente competentes, de lado. Atitudes desta natureza podem causar um desconforto natural e fomentam à aparição de “cisnes negros”. Como bem diz o inimigo número 1 de Batman, o Coringa, "o que me diferencia do restante da humanidade foi um dia ruim que eu tive".
Como líderes, façamos, então, a nossa parte com inteligência, lançando mão de boas escolhas junto aos colaboradores, os convidando para desafios dignos e possíveis, sem puxadas de tapete, desvalorização ou injustiças. Assim, colaboramos para que a vida profissional seja protagonizada mais por mocinhos do que por vilões. Afinal, nem todo cisne branco nasceu para ser cisne negro.
ANA MARIA MAGNI COELHO
Publicado no Caderno Opinião - Mogi News
02 de julho de 2011
O filme realmente impressiona. As cobranças, os conflitos internos. Uma pena não ter sido exibido no cinema de Mogi.
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