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sábado, 18 de dezembro de 2010

CAUSA PRÓPRIA


Nada melhor do que receber um polpudo aumento antes mesmo de assumir um novo emprego. Passadas as eleições, políticos reeleitos cuidam do seu futuro e preparam de forma muito amigável a recepção daqueles que assumirão seus mandatos.
Os reajustes salariais de 61,8% aos deputados federais e de 133,9% para o presidente são uma vergonha. Na Câmara, a proposta ganhou regime de urgência com 279 votos a favor, 35 contra e 5 abstenções. Depois da aprovação simbólica do mérito, o projeto ficou pronto para ir ao Senado ainda no mesmo dia.
A velocidade na tramitação de uma lei que advoga em causa própria não é de causar nenhuma estranheza. A novela já contava com alguns capítulos anteriores. Desde 2006, o aumento salarial vinha sendo articulado e assim como aconteceu naquela ocasião, o tema causou polêmica entre vários representantes da sociedade civil.
No Twitter, Jô Soares se manifestou: “A votação para aumento de salário dos deputados, devia ser feita pelo povo brasileiro e não por eles mesmos. Assim eles já estariam devendo.” Ronaldo, o fenômeno, ironizou a aprovação relacionando-a com um presente de Papai Noel “Alguém aqui recebeu 62% de reajuste como presente de Natal?”
Sinceramente, não conheço ninguém. E pior: o presente que caberá ao povo brasileiro é um possível retorno da CPMF.
Não podemos simplesmente aceitar. Somos cúmplices dessas decisões se não acompanharmos e cobrarmos atitudes diferentes dos candidatos que elegemos. Se há verba para um custo adicional estimado em quase R$ 130 milhões a partir da proposta de reajuste salarial, por que não existem recursos à saúde?
Isso sem contar o efeito cascata que a aprovação da última quarta-feira trará aos estados e municípios. Por lei, os salários dos deputados estaduais e vereadores estão vinculados às decisões na esfera federal. Todos poderão comemorar. Basta que as assembléias estaduais votem também seu próprio aumento.
Ideal seria se pudéssemos adotar medidas que premiassem o mérito e os resultados que são obtidos pelas bancadas legislativas. Se o deputado desempenhar seu papel e cumprir as promessas feitas em campanha, melhora seu salário na base do merecimento. Quanto melhor o desempenho, mais recebe.
Enquanto se discute o enriquecimento de políticos, prevalece a miséria moral que assola o país há anos. É lamentável que a política seja um jogo tão repleto de interesses pessoais que se sobrepõe ao coletivo.
Se a esperança está nos novos eleitos, que venha o Tiririca. A palhaçada já está no congresso há algum tempo. Ele, ao menos, é ficha-limpa.
Aplausos aos novos diplomados!


ANA MARIA MAGNI COELHO
Publicado no Caderno Opinião - MogiNews
18 de dezembro de 2010

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